sábado, 20 de fevereiro de 2010

Tributo a São Fidélis

Imagem coletada do Google Imagens
Oh, Tu! Serrana bela, cidade poema!

Ainda quando tudo era intocado;
E aqui não se pensava em tijolo.
Foram as tribos dos puris e corados
Primeiros habitantes de teu solo.

Na tua trajetória a força o brado,
Dos teus religiosos capuchinhos.
Legado que permeia teus caminhos.
E está no teu brasão eternizado.

No verde-oliva o áureo-rubro sol.
Fulgura no teu seio ao pé da serra.
Inspira teus poetas no arrebol.
E faz de ti virtude em paz, sem guerra!

De glória o teu passado enriquecido,
Pelo progresso, augusto, da ciência!
Que foi quem te levou por excelência,
Ao município, hoje, enaltecido.

E a limpidez do céu, hoje, preclara!
Duzentos anos de tua história!
E no olhar do Paraíba, oh, joia rara,
Tu és exemplo de grande vitória!

Cercada de belezas naturais,
Que impulsionam tua economia.
Os rios, as cachoeiras os minerais.
A pecuária e agricultura te alforria!

Repicam, pois, os sinos na matriz,
Que consagrou teu nome, oh, São Fidélis!
E o povo comemora e pede bis.
És pérola no chão do teu País!



Edith Lobato
 

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Coisas do sistema

Imagem coletada no Google Imagens
     Dia desses, eu tinha coleta de sangue e urina marcada no Hospital Municipal para as seis e trinta da manhã. Levantei-me as cinco, me arrumei e fui cedo para tentar ser atendida e voltar para o trabalho. Chegando lá, em minha frente já haviam 185 pessoas, a ficha que eu peguei foi a de número 186, evidentemente. Ao apresentar a requisição de exames, fui informada que o exame de urina não estava sendo feito porque a máquina estava quebrada.
     Ao receber esta informação, ainda questionei com a atendente sobre o fato de que há um mês disseram esta mesma informação a minha irmã e a atendente me disse em tom seco: ainda não foi arrumada senhora! Assenti com a cabeça e posicionei-me na fila para esperar a hora da de ser atendida.
Haviam dispostos ali, apenas, três bancos, os quais já estavam, devidamente, ocupados. Depois de um tempo em pé, o corpo começa a pesar e, devido o corte nas horas de sono, a mente também começa a sentir as consequências. A espera acaba estressando.
     Para tentar não sucumbir ao estresse da espera, passei a observar as pessoas. Olhei as senhoras e senhores com vincos fundos na face, mãos calejadas, enrugadas, alguns com cã tão branquinha, que mais parecia flocos de algodão, olhos sem alegria. Mulheres ainda jovens, mas denotando um profundo desalento.
    A morosidade do atendimento e a falta de humanização nestas repartições públicas só contribuem para acentuar o desanimo e a descrença no que é público. Isto ocorre porque nenhum dos políticos que eu conheço vai para a fila do SUS granjear uma consulta, a maioria deles paga um bom plano de saúde ou recorrem ao atendimento particular e não precisam passar a humilhação do atendimento público, onde os equipamentos estão sempre quebrados, não tem médicos, os resultados de exames para serem entregues é uma eternidade, e etc., etc....
     Enfim, vivemos uma contradição formidável. Quando paramos para pensar que o país vai gastar milhões e milhões de reais nas Olimpíadas de 2016 e vai ficar endividado após este evento por uns bons e longos anos, e mais penúria virá sobre a massa, em especial sobre a saúde pública, ficamos realmente sem entender em que era de gelo estamos vivendo.
     A mudança da cor da vida, rubra quanto à face do sol para alguns, mas tão escura quanto à face da noite para a maioria, já não depende do nosso voto, mas do caráter que tem aqueles que vão governar.

 

Edith Lobato

Um olhar para o passado

Imagem coletada do Google Imagens
     Hoje, ao entrar na sala de aula e olhar a turma como sempre faço, notei que havia um aluno escondido no canto da sala e com a cabeça baixa. Deixei que ele ficasse quieto, mas sabia que havia alguma coisa errada com ele. Depois da conversa informal de praxe para iniciar a aula, sentei-me e fui fazer a chamada.
     Ao chamar o número do referido aluno, notei que ele respondeu ainda de cabeça baixa, então parei, chamei-o pelo nome e pedir que ele levantasse a cabeça. Fiquei chocada e ao mesmo tempo surpresa com a mancha roxa em torno do olho esquerdo do aluno. Pedir que ele viesse até mim e iniciei uma conversa com ele em tom baixo.
     No diálogo, o aluno me disse que o acontecido se deu por motivo de simples brincadeira, que ele havia dito uma frase sobre a mãe do colega para revidar a ofensa que havia recebido sobre sua mãe e que o colega não gostara e havia levado a rixa para fora da escola. Perguntei-lhe como aconteceu a briga. O aluno disse que ia sozinho quando o colega surgiu em seu caminho acompanhado de outro colega que o segurou enquanto o colega ferido lhe batia na face e no estômago.
     Lembrei-me com saudade de um tempo onde as coisas me pareciam mais suave, até mesmo numa briga de adolescentes na escola. Lembro que naquela época, os meninos brincavam de bola de gude e de patela. As meninas brincavam de macaca, de boli-boli e de muitas outras brincadeiras que, hoje, não se ver mais entre as crianças deste tempo. A patela era uma brincadeira onde os meninos juntavam carteiras de cigarro vazias e as transformavam em cédulas, cada cédula tinha um valor, e eles se divertiam.
     Entretanto, lembro que sempre surgiam as desavenças entre um e outro, e que as mães eram sempre o alvo a ser atingido, especialmente quando um suspeitava que estivesse sendo passado para trás. Quando isto acontecia o ofendido cuspia no chão e dizia: isto aqui é minha mãe, pisa na minha mãe se tu fores homem. Havia uma torcida que gritava: pisa seu frouxo! Pisa logo na mãe dele! Se o adversário pisasse a briga estava feita, mas era algo que acontecia ali e terminava ali, não tinha aquela coisa de levar essas rixas para a vida social fora dos portões da escola.
     Na atualidade, crianças, adolescentes e jovens, agregaram em suas atitudes formas violentas de resolver as questões surgidas no dia-a-dia. Este é um fato que assusta os docentes, pais e comunidade escolar. Vivemos uma época onde paramos e nos perguntamos: O que está acontecendo? Porque não vemos mais a inocência nas faces destes pequenos? Por que tanta revolta dentro de seus íntimos? Por que suas ações revelam atitudes, cada vez mais forte, de violência, de destempero emocional, de vingança?
     Dentre tantas indagações em busca dos motivos desta mudança, o principal e maior deles aponta em direção a família. Os pais perdem o controle dos filhos ainda em idade muito tenra. Diversos fatores contribuem para esta desestrutura. Citá-las nesta reflexão acarretaria numa lista imensa. Mas, o fato é que os adultos de hoje, especialmente os docentes, são forçados a conviver com situações de total balburdia comportamental e se veem perdidos dentro de um sistema com planos bonitos, mas ineficazes.

 

Edith Lobato

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Intrínsecos matizes

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O amor é cheio de intrínsecos matizes.
Chega silencioso como a brisa.
Não admite luta, ele é sempre vencedor
no coração de quem luta contra a sua chegada.

Depois de vencer, se instala, se regala.
Estou falando do amor entre dois.
Aquele que chega e junto com ele traz
uma espécie de saudade na menor distância.

Porém, se esta distância é grande demais,
esta saudade é como fumaça sufocando o peito.
Aquele amor que traz o desejo refletido nos olhos,
e que como labaredas de fogo se espalham pelo corpo
e transcendem para a alma de uma forma singular.

Aquele amor, que se junta à paixão e, suavemente
transborda em luz, serenidade, cumplicidade,
respeito, cuidado e até um pouco de ciúmes.
Ciúmes na medida certa, porque para quem ama
não há como não tê-lo, como não senti-lo.

Dói, dói muito, mas o ciúme deve ser um tempero, de tal modo
que nunca se transforme em posse e obsessividade.
Este amor do qual falo, cheio de matizes,
tem segredos que devem ser mantidos
e que só aos dois pertence,
porque são toques tão sutis como pétalas de rosas
que quando caem debaixo da roseira
formam um tapete enfeitando o solo onde está plantada.

Neste amor, cheio de matizes, haverá sonhos,
sonhos a serem buscados a dois,
haverá momentos tristes
que devem ser contornados,
porque alimentar a lembrança
desses momentos poderá desidratar o amor.

Todo àquele que um dia já proferiu a frase mágica do Eu Te Amo
ou já sentiu esta chama reinando dentro de si
sabe que neste amor cheio de matizes,
há dias luminosos, mas também, dias apagados
e nestes dias apagados, muitos
perdem a fala para quem ama.

Haverão momentos secos, estéreis, outros molhados
cheios de fertilização trazida pelas mais diversas
emoções do viver a dois.
Mas este amor, cheio de matizes, carrega dois lados:
o direito e o avesso.

Do lado direito está tudo o que agrada,
todo o encanto, toda a magia.
Mas é do lado avesso que o amor testa o amor.

Amar só o lado direito é amar pela metade,
e esta espécie de amor não existe.
Quem ama, ama o todo,
o caule, a raiz, as folhas, flores e frutos.

Este amor cheio de matizes,
deve ter sonoridade e até nas brigas,
não deve deixar ruídos.

Cada atitude, cada palavra,
cada gesto soará de duas formas,
caso este amor vá embora repentinamente,
sem aviso, sem hora marcada.

Num eco de saudade que se levará por toda a vida,
Ou num eco de saudade amargurada,
desejando-se que o tempo volte atrás,
porém,
o tempo, soberano, jamais volta.

 

Edith Lobato

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Visões Escabrosas

     
Imagem coletada do Google Imagens
     Ontem, depois que a casa silenciou, preparei-me para dormir, antes, olhei o céu e havia nuvens escuras denunciando que naquela noite o céu ia chorar. Tentei entender qual seria a razão da proximidade daquele pranto e o porquê daquela expressão inconfundível, neutra, cabisbaixa, silenciosa na face do céu, nem nuvem clara, nem estrelas, nem lua, era como se todos houvessem se recolhido ao átrio de seus aposentos.
     Deitei-me pensativa nesta observação. Lá no fundo de minha mente, como sempre, aguçada e continuamente dada às reflexões, havia uma voz cochichando com meus neurônios, rolei de um lado para o outro como se minha cama fosse um grande navio em alto mar, sendo açoitado por grande tempestade.
     E fui neste embalo, pouco a pouco, entrando nos redemoinhos do sono. Tão logo adormeci, tive visões escabrosas, vi que de mim saia outra igual a mim. Assustei-me com o fato, mas procurei entender a razão de meu corpo está na cama e ao mesmo tempo está flutuando nos ares. A princípio tentei voltar, mas enquanto eu olhava meu corpo inerte naquele móvel, uma voz chamou-me e disse: vem! E estendeu-me a mão. Eu estendi a minha e ao tocá-la a sensação era de não está tocando em nada. Mas, havia uma força, uma pureza que emanava daquela figura. Olhei e franzir o cenho, pois à semelhança minha aquela visionária criatura também parecia flutuar.
     Observei-a, em silêncio, as feições suaves, a placidez no olhar e, então mais uma vez aquele ser falou e disse: estás numa luta conflituosa em seguir-me. Entendo perfeitamente tua reação e tua atitude. Porém se queres ver onde reside parte dos dissabores de tua sociedade, confia, apenas confia. Voltarás em segurança.
     E fui, deixei-me ser levada. Após algum tempo flutuando no ar, meus pés e os do meu acompanhante tocaram o chão. E a partir daí, passamos a caminhar por entre uma alameda ladeada por plantas bem cuidadas e floridas. Pensei! Aqui não devem morar pessoas simples O ar sustentava um cheiro pesado de riqueza, de fartura. Era algo bonito e ao mesmo tempo intrigante. E novamente meu ser, já ressabiado, me colocou diante de inúmeras interrogações. Quem vivia ali? Por que tanto luxo? E por que tanta ostentação?
     Meu acompanhante, vez por outra, me olhava fixamente, era como se ele soubesse as interrogações que pairavam em meu ser, entretanto, se mantinha em silêncio. Assim, continuamos e parei, boquiaberta, diante da deslumbrante visão. Um palácio! Expressei em voz alta e, meu acompanhante disse: sim, um palácio, vamos entrar! Hoje, entenderás um pouco do por que tua sociedade vive a beira do abismo. Falta pouco para meia noite, exatamente a hora que as tumbas de abrem e todos os fantasmas mostram suas identidades neste mundo material.
     Vamos, ainda dar tempo. Prosseguimos, passamos pelo imenso portão como se este fosse uma parede transparente que pudesse ser ultrapassada sem ser aberta. À minha frente, algo majestoso: uma construção suntuosa, e então tive a certeza que ali residiam pessoas que só podiam viver à sombra de muita água fresca. Passamos pela porta principal, o hall de entrada, se fosse dividido, daria para servir de casa para uma família. A decoração e a mobília chegavam a se constituir em agressão ao ninho das singelas andorinhas. Chegamos diante de uma escada amparada por uma balaustrada magnífica que ia dá, supondo eu, em algum aposento acima do térreo.
     Meu acompanhante voltou a estender-me a mão, e neste mesmo instante flutuamos por sobre a escada. Meu guia olhou-me e perguntou-me: ouves alguma coisa? Olhando fixamente em seus olhos, que mais pareciam duas pedras de esmeralda, meneei a cabeça em sinal negativo e ainda segurando minha mão disse: pronta? Confirmei silenciosamente com a cabeça em sinal positivo. O coração se debatia num maremoto violento das emoções e conflitos que minha alma experimentava naquele momento.
     Do mesmo modo que passamos pelo portão, passamos agora por uma porta para entrar num enorme salão onde havia uma imensa mesa oval de madeira nobre ladeada de cadeiras estofadas. Meus olhos foram expandindo minha retina ao ver os três cavaleiros da sociedade ali representados discutindo o destino de onças, piracus, micos-leões-dourados, araras e garças. Esses animais estavam aprisionados em zoológicos estrangeiros, mas era propriedade das andorinhas. Havia risos e uma clara satisfação nas faces dos abutres, gargalhadas retiniam naquele ambiente como se fossem os risos de hienas na escuridão noite.
     Bebiam dos licores importados mais finos e o ar estava enervado pela fumaça que pendia dos charutos caríssimos. Para completar aquela orgia indecorosa, havia outra mesa, disposta estrategicamente, num canto da sala, repleta de guarnições de finas iguarias. Tudo ali justificava, vergonhosamente, o caos que vivia a sociedade das andorinhas. Os abutres moravam em mansões onde não havia a preocupação com aluguel e nem com suas próprias despesas, até o vestuário e as compras fúteis de suas concubinas eram, indecentemente, custeadas por um “tal” de auxílio moradia.
     Eu olhei meu acompanhante e falei pela primeira vez: quem pensam que são? E ele me disse: eles não pensam que são. Eles são o que as andorinhas já sabem que são, mas como a consciência crítica ainda navega muito entre o ser e o ter elas sempre acabam seduzidas pelo que podem ter, esquecem que isto é passageiro e que o deserto se estende à frente.
     Muita gente falou sobre isto e, inclusive, um escritor famoso de sua sociedade disse em uma de suas obras “um galo sozinho não tece uma manhã, é preciso que a ele se junte outros galos”, não obstante, um compositor, também famoso disse certa vez numa canção “se o boi soubesse da força que tem, não puxava carroça e, a abelha da dor da picada, não roubavam seu mel”. Ainda há muita coisa para ser vista aqui, mas o tempo urge, voltaremos outro dia. Apenas um conselho: não desanimes, o que viste aqui é apenas parte do que se vês lá, e todos sabem que as consequências do que ocorre lá advém das atitudes de cá. Tudo está entrelaçado e gira em torno de um interesse próprio. Nisto despertei e me deparei com a dura realidade, estava na hora de levantar e ir trabalhar.


Edith Lobato